Lixo no Guarani 01

Entulho e lixo são problemas na Zona Norte

O descartes de entulho, móveis velhos e outros objetos tem gerado reclamação por parte dos moradores dos bairros Tupi, Guarani e Floramar. As reclamações dos bota-fora irregulares estão constantes, a situação tem deixado a população indignada pela falta de ação da fiscalização.

O que problema para os moradores, é também fonte de renda para os catadores. Eles aproveitam para tirar o sustento de suas famílias da coleta de produtos que são destinados para reciclagem. Basilie Fernandes é dos inúmeros catadores que dão destino aos produtos para reciclagem.

Outra experiência de transformação é realizada por Marina da Sepúlveda, Mestre em Marketing, que faz a customização de móveis e objetos, que seriam destinados ao descarte e são vendidos no seu atelier.

Entulho e lixo é problema para moradores da ZN

Os descartes de entulho, móveis velhos e outros objetos de forma irregular tem gerado reclamação por parte dos moradores dos bairros Tupi, Guarani, Floramar e Heliópolis. O Serviço de Apoio à Comunidade (SAC) do Jornal tem recebido relatos de moradores que estão convivendo com as calçadas obstruídas principalmente com o entulho e podas de árvores. Na maioria das vezes as reclamações vêm acompanhadas com fotos enviadas pelo whatsapp.

O descarte de irregular de entulho e móveis velhos no bairro Guarani – Foto: @marcossilvabh / JCA

Perguntamos às pessoas se encaminharam a reclamação para Prefeitura no telefone 156 da Prefeitura, elas alegam que demora muito para atender, e a ligação cai sem concluir a reclamação.

As reclamações são antigas com mais de seis meses. Exemplo de um monte de entulho que foi depositado na Rua Pacaembu no bairro Guarani, já brotou mato e a cada dia a população, aproveitando a ausência da fiscalização do poder público, tem depositado mais resto de móveis velhos no mesmo local.

Basta virar a esquina na Rua Tripui no mesmo quarteirão para encontrar outro descarte de móveis velhos e entulho de construção. No quarteirão seguinte da mesma rua esquina com a Rua Itami, na calçada do Centro de Saúde no ponto de ônibus, a população depositou galhos e podas de árvores. No quarteirão seguinte ainda próximo ao Centro de Saúde, na Rua Itapoã, outro bota-fora irregular. Todos eles no bairro Guarani, denuncia um morador que pediu para manter-se no anonimato. Esta sequência de irregularidades, motivou o Jornal COMUNIDADE EM AÇÃO realizar esta reportagem.

Juntamos outras reclamações dos bairros Tupi e Floramar. No bairro Tupi três pontos de descartes de inservíveis são recorrentes. Na esquina das Ruas Nelson Hungria e Gil Moraes de Lemos sempre é depósito de bota-fora. Na Esquina das Ruas Furquim Werneck e Afonso Tunay o descarte é de lixo orgânico inclusive com relato que tem até animais mortos. Na avenida Basílio da Gama o problema é antigo principalmente no trecho da avenida que não é urbanizada.

No bairro Floramar, na Rua José de Lima, durante a reportagem, fomos abordados por um jovem que não poupou críticas aos vizinhos que colocam o lixo na calçada fora do dia da coleta. “Ai a rua fica suja e atrai ratos e outros bichos, as pessoas não pensam na consequências e nas doenças que podem causar”, além da sujeira que fica espalhada pela rua. Ele diz que são os cães e gatos que rasgam os sacos de lixo é colocado fora do dia da coleta da SLU e relatou que na semana anterior uma ratazana invadiu a casa dele. Quando perguntamos pelo nome dele, pediu para não citá-lo pois teme represália dos vizinhos que ele denunciou. Ele mas viu qualquer ação da Prefeitura para coibir as irregularidades.

O que diz a Prefeitura

O Jornal COMUNIDADE EM AÇÃO procurou a Prefeitura de Belo Horizonte com alguns questionamentos quanto ao descarte irregular. Entre as perguntas citamos: a percepção é que os moradores não sabem o dia correto da coleta de lixo; a falta de uma campanha efetiva por parte da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) para orientar o dia do serviço de coleta domiciliar.

A Prefeitura informou que o recolhimento de resíduos ocorre diariamente, de segunda a sábado, em algumas localidades, e em outras, de maneira alternada, às segundas, quartas e sextas-feiras, ou ainda, às terças, quintas e aos sábados. O cidadão pode consultar o site para saber o dia e o horário da sua coleta.

Para o recolhimento dos resíduos que não são coletados da forma convencional, a Prefeitura orienta que o cidadão leve até as Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV) da SLU. São aceitos os entulhos de construção e demolição, madeira, pneus, podas de árvores e de jardins e os móveis velhos que são recebidos gratuitamente. Cada cidadão pode destinar até 1m³ por dia. Atualmente Belo Horizonte conta com URPVs espalhadas por todas as regionais.

Sem fiscalização e campanha educativa por parte da SLU, a população descarta os inservíveis em qual quer loca Foto: @marcossilvabh / JCA

Os carroceiros prestam este serviço de forma autônoma sem a mediação da SLU, porém eles são obrigados dar a destinação correta nas URPV’s cabe ao contratante exigir o comprovante do carroceiro. Para quem precisa descartar uma quantidade maior de entulho, a alternativa, também gratuita, é a Usina de Reciclagem de Entulho, na Rua Policarpo Magalhães Viotti, 450, Bandeirantes, que recebe o material transportado por caminhonetes e caminhões.

Ao ser questionada sobre campanhas de descarte correto dos inservíveis e entulhos de construção, a Prefeitura informou por nota que:  “A SLU aborda frequentemente moradores próximos aos pontos críticos, orientando como descartar os resíduos. A campanha vem mostrando bons resultados nos últimos anos. A SLU reduziu o número de pontos de deposições clandestinas de resíduos de 880, em 2017, para 732 no ano seguinte, para 590 pontos em 2019 e 515 em 2021. O mapeamento desses locais envolve o trabalho de educadores ambientais, fiscais e cadastradores que identificam e categorizam os pontos. Além da localização, informações como o tipo de resíduo descartado e quem descarta são alguns dos dados apurados.”

Há pelo menos seis meses os moradores esperam pela retirada do entulho – Foto: @marcossilvabh / JCA

Na nota consta a informação que é feito o planejamento de atividades educativas e coercitivas, que ficam a cargo da SLU e da Secretaria Municipal de Fiscalização, respectivamente. Que também tem implantado Pontos Limpos, com requalificação do espaço degradado, envolvendo parceiros e vizinhos como escolas, centros de saúde, comércios e associações comunitárias. Com o engajamento da comunidade permite que estes locais sejam transformados em áreas de convivência para que todos possam desfrutar. Somente em 2021 foram implantados 131 pontos limpos.

Lixo para uns, dinheiro para outros

Para Basilie Fernandes o lixo é uma oportunidade de geração de renda com investimento próximo de zero. Há cerca de dois meses Fernandes começou na coleta seletiva nas ruas do bairros Tupi e Guarani. Ele pôs em pratica a expertise que adquiriu quando trabalhou em empresa de reciclagem de papelão.

Fernandes começa o dia por volta das 6 horas da manhã antecipando a passagem do caminhão da SLU nos dias coleta. Percorrendo as ruas do bairro ele busca no lixo domiciliar os produtos que podem ser reciclados. O que tem mais valor são as latinhas de alumínio, garrafas PET e o plástico duro tipo usados em utensílios doméstico. “Nestes a gente consegue vender com o melhor preço” explica Fernandes. Outros produtos ele consegue bons preços são o ferro, panelas de alumínio, e o que tem menor preço é o papelão. Outro produto que proporciona um bom dinheiro é a reciclagem de produtos eletro e eletrônicos de onde ele tira o cobre e alumínio. Em 3 horas de trabalho de coleta na rua ele e fazer a triagem do material ele consegue a média de R$150/dia. “Com este dinheiro eu pago o meu aluguel, alimento para minha esposa e filha e não me falta carne no prato” diz Fernandes.

Outra estrategia que Fernandes usa é a distribuição de cartões de visita com o seu número whatsapp em residências para que as pessoas ligue para ele fazer a retirada de material de reciclagem no local. Fernandes também investiu na confecção de camiseta personalizada com a marca da “firma Reciclagem Busca Aqui – RBA” e em anúncio no Jornal. Ele explica que não compra o produto ao fazer a retirada em domicílio, “eu retiro como doação por parte da pessoa que me liga”.

Preocupação ambiental

Basilie Fernandes tem preocupação com o meio ambiente com a coleta seletiva. Ele fala dos danos que a garrafa PET causa entupindo os bueiros e produtos que são descartados de forma irregular.

Basilé Fernandes recolhe produtos para reciclagem nas Rua da Zona Norte – Foto: @marcossilvabh / JCA

Basilie vê a oportunidade de organizar uma cooperativa de catadores na regional Norte, ao ser informado que PBH não tem um projeto social que possa acolher os catadores de reciclagem na região. Ao questionar à Prefeitura formos informados que na regional Norte não tem programa de coleta seletiva que envolve os catadores. Fernandes diz “quem sabe é a oportunidade de organizar os catadores”. A cooperativa mais próxima está na Pampulha.

Do lixo para customização

No sentido inverso daquilo em que tudo é descartável está a Mestre em Marketing de Varejo, Marina da Sepúlveda. Formada em Relações Pública, professora universitária acrescenta-se aos títulos de formação o de “A Rainha da Caçamba”. Ela tem um ateliê customização. Atenta e com a predileção aos objetos que tem história e por ser ricas em detalhes seja pelo material em que foi produzido.

Para atender uma necessidade de mobiliar e decorar o seu primeiro apartamento, logo que casou, ela recorreu aos móveis e objetos que estavam sem funcionalidade na casa dos seus pais. Mas sempre tem um olhar atento aos descartes em caçambas de construção (a gêneses do título de Rainha) onde ela resgatou alguns móveis, debaixo de viadutos da Avenida Cristiano Machado ou descarte em porta de alguma casa. “Assim montei o meu apartamento” diz a professora universitária. Ela tem o interesse por objetos e móveis mais simples em que alguns casos ela recupera ou transformá-los para decoração.

A Marina Sepúlveda lança um curso EAD de customização – Foto: Arquivo Pessoal

Marina Sepúlveda explica que existe uma diferença na transformação ou customização para a restauração. “O restauro é uma coisa que eu quase não faço, porquê restauro é muito especifico e muito caro, eu gosto muito de dar novos usos à objetos, então a questão do upper side , do ressignificar, do transformar eu gosto dos novos usos”, e Sepúlveda dá o exemplo de uma cadeira antiga pode ser usada como um mesa de cabeceira, apoio de livros ou de plantas.

Para Marina Sepúlveda restaurar um móvel ou objeto antigo pode ser elevado a categoria de peça de arte por sua raridade, a intenção que a pessoa tem para com aquele elemento ou a conexão com as sua origens e memória, define a professora.

Customização é uma tendência

Ainda não é possível definir a customização como cultura explica a Mestre em Marketing. Para Marina a customização é uma tendência de pessoas preocupadas com o meio ambiente e que tem o conhecimento ou a informação da importância de um móvel antigo. “A gente vê que as pessoas pegam um móvel antigo, vendem, descartam e vai comprar um móvel em MDF que não vai durar nada e não consegue ser remontado porque tem esta cultura do novo. Então assim, quem vai gostar, quem é o público prá customização são pessoas que tem repertório, olhar artístico, principalmente pessoas que se ligam em preservação de memória, em afeto, objetos com afeto e pessoas que tem consciência ambiental e sustentabilidade, este é o público”. Segundo Marina Sepúlveda pessoas que gostam da customização tem um perfil de classe média para alta, porem deve fazer um cruzamento com estilo de vida ligada as questões de sustentabilidade.  A professora explica que ainda não existe um cultura de customização, mas este é um insumo para movimento virar uma cultura.

No Instagran do atelie, @ateliemarinasepulveda, tem fotos de um guarda-roupa que foi resgatado em uma caçamba no bairro Santa Tereza (BH) que certamente iria virar entulho. Marina explica que uma pessoa do seu circulo de amizade fotografou e passou as informações “eu fiquei doida” diz Marina ao ver a foto e contratou o frete para buscá-lo. Na entrega foi que ela viu o guarda-roupa era enorme, foi necessário “fazer uma higienização profunda” além do tratamento para combater os cupins ganhando uma nova pintura. Ela explicou o trabalho de recuperação e tudo que envolve o serviço, comparando o preço é quase igual de móvel planejado. Mas fica o prazer da transformação do guarda-roupa que viraria entulho “dei uma nova vida para ele (o guarda-roupa)”.

Marina que transferir o seu conhecimento por meio de um curso online no qual as pessoas podem executar a customização dos próprios objetos reduzindo o preço. O curso foi elaborado para aqueles que querem dar vida aos objetos e “ficar feliz com o processo” com as técnicas para para quem gosta. O curso será lançado no final de fevereiro (informações no Instagran: @ateliemarinasepulveda). Ela explica que os materiais são os mesmo que são usados no cotidiano, da lixa ao pincel e tintas. “Fica caro quando a pessoa precisa fazer um restauro, recuperação da madeira, descupinazação (tratamento contra cupins) dependendo o nível do objeto também fica caro, mas é inenarrável o prazer da transformação e do resultado do processo de transformação de um móvel”.

Para Marina Sepúlveda a customização ainda não é uma cultura – Foto: Arquivo Pessoal

A professora Marina Sepúlveda compartilha da ideia que o poder público deveria ter uma politica que oriente a população dar o destino correto aos inservíveis.

Sempre bom a informação, mas acho que é uma luta ainda difícil diante da cultura que a gente tem do novo, de se comprar tudo novo, das coisa ser descartadas com muito facilidade. Então eu acho quanto mais informação melhor e assim, se a gente for pensar em relação das cidades, em relação por parte da população sobre este descarte e de fundamental importância as campanhas de conscientização porque quando vem estas fortes chuvas e a gente vai ver o transbordamento de leitos de rios urbanos, canais urbanos, você vai ver que tem sofá, que tem cadeira, que tem geladeira e isso as pessoas descartam de qualquer forma e muitas das vezes por não querer se pagar para levar o descarte oficial, então precisa de conscientização”, afirma a professora reforçando que a conscientização vem lá no plantio da árvore, como impacta ao meio ambiente e as suas consequências que o descarte indevido traz para as pessoas, seja econômica, física e de memória.

 

Reportagem e Fotos: Marcos Silva / JCA

redacao1@comunidadeemacao.com.br 

 

No site da Prefeitura/SLU  informação orientando como acondicionar o lixo dos produtos destinado para reciclagem e os dias de coleta do caminhão da SLU.