Amizade de 25 anos entre vizinhas inspira comunidade

Em tempos de tanta intolerância religiosa, amizade entre Ângela e Tina

é exemplo de respeito

Em tempos em que a intolerância parece prevalecer, a amizade entre Ângela da Conceição Batista, de 69 anos, e Prudentina Maria Pires da Silveira, conhecida como Tina, de 60 anos, é um exemplo inspirador de respeito e tolerância. Apesar de pertencerem a religiões distintas, as duas vizinhas se aproximaram pelo simples fato de morarem lado a lado e, ao longo destes 25 anos, construíram uma amizade sólida baseada em apoio mútuo.

Ângela conta que Tina está sempre presente em sua vida, seja em momentos de alegria ou de dificuldade. Juntas, elas se ajudam em todos os aspectos. “Podemos falar sobre qualquer coisa sem medo de julgamento. A Ângela é como uma irmã para mim”, confessa Tina, demonstrando a admiração e o carinho que sente pela amiga.

O encontro inesperado entre as duas ocorreu quando Tina e seu marido recém-chegaram ao bairro Minaslândia, na Região Norte de Belo Horizonte, e precisaram resolver um problema elétrico. Ângela prontamente chamou seu marido, eletricista, para ajudar. Enquanto Edson trabalhava, as duas mulheres conversavam no portão e perceberam que tinham muitas afinidades. Ambas eram mulheres fortes, independentes e valorizavam amigos e a família.

A amizade entre Ângela e Tina cresceu rapidamente, apesar de seguirem religiões distintas. “Ela participava conosco na igreja e achei fascinante o fato de ela ser de outra congregação, mas estar presente em nossa comunidade”, disse Ângela. Elas compartilhavam experiências pessoais, fortalecendo ainda mais o vínculo entre elas.

RESPEITO ÀS DIFERENÇAS

Parceria para a vida
“O que mais me aproximou da Tina foi a identificação que tínhamos com as questões matrimoniais, pois enfrentávamos problemas com nossos maridos e encontramos conforto e apoio uma na outra. Nossas conversas eram cheias de conselhos e compartilhávamos os mesmos pensamentos e sentimentos. Nos entendíamos como mulher, mãe, esposa e também como amigas. Nossa amizade é uma parceria para a vida”. Ângela da Conceição Batista 
Foto: Daniele Ferreira | Arquivo Pessoal

“A gente sempre quis que os nossos filhos crescessem sabendo sobre a importância de respeitar as diferenças”, explicou Ângela. “A amizade entre a gente é uma prova de que é possível ser amigo de alguém que tem uma religião diferente”, complementa Tina. As duas, que têm filhos adultos, acreditam que a própria amizade é um exemplo para os filhos e pode ajudar a promover a tolerância religiosa na sociedade.

Tolerância e respeito são práticas ensinadas por elas aos filhos, que não abrem mão dos valores com os quais foram criados: “Eu já seguia o exemplo dos meus pais, conforme a educação que me deram, respeito, fé e igreja, e sempre passei isso aos meus filhos, sobre a importância do respeito, independentemente de quem seja”, explica Ângela. Tina endossa o coro ao dizer que também educou os dois filhos com base nos ensinamentos aprendidos e reforça o valor da religião: “sempre aprenderam por meio da Palavra de Deus, porque a vida religiosa é essencial”, reforçou.

APOIO INCONDICIONAL

Durante os momentos difíceis, a amizade entre Ângela e Tina se fortaleceu ainda mais. Quando Tina decidiu se separar do marido, ela encontrou em Ângela um apoio fundamental. A amiga a apoiou durante o tratamento psicológico e psiquiátrico, fornecendo conforto e conselhos valiosos. Mesmo após a superação dessa fase difícil, a amizade entre elas continua sendo uma fonte de apoio e compreensão.

Ambas admiram profundamente uma à outra. Tina enaltece a fé de Ângela, enquanto Ângela valoriza a capacidade de conexão e respeito que Tina tem, mesmo com suas diferenças religiosas.

Amizade incondicional
“Ângela é uma pessoa admirável, cheia de fé, que se tornou como uma irmã para mim. Ela foi o meu maior apoio quando me separei, em um momento extremamente difícil. Sempre esteve presente, sendo um verdadeiro porto seguro. Não tenho uma irmã próxima, mas Ângela é uma amiga leal e disponível. Sua amizade deixou uma marca profunda em mim e tenho certeza de que posso contar com ela incondicionalmente”. Tina Maria Pires

CONVÍVIO SOCIAL

As vizinhas Ângela e Tina têm uma relação longa e duradoura, demonstrando a força de sua amizade. Elas se aceitam como são e nunca tentaram mudar uma à outra. Além disso, a proximidade física, por morarem lado a lado, transformou a amizade em uma relação que vai além do convívio social. Elas são como uma família uma para a outra, reforçando o ditado de que “o vizinho é o nosso parente mais próximo”, nas palavras de Ângela.

A amizade entre Ângela e Tina é um exemplo inspirador de como é possível construir relacionamentos sólidos e duradouros, independentemente das diferenças religiosas. Elas ensinam que o respeito mútuo é fundamental para a construção de laços de amizade verdadeiros e que a tolerância pode superar barreiras e preconceitos. Em um momento em que a intolerância parece prevalecer, a história de Ângela e Tina é um lembrete de que a união entre as pessoas pode superar qualquer diferença.

Intolerância Religiosa – o que é?

A intolerância religiosa é a falta de respeito ou aceitação de outras religiões ou crenças. Pode se manifestar de várias formas, incluindo:

Discriminação: Tratamento desigual ou injusto de pessoas com base em sua religião. Pode incluir negar oportunidades de emprego, educação ou moradia, ou até mesmo violência.

Perseguição: Oprimir pessoas por causa de sua religião. Pode incluir prisão, tortura ou até mesmo morte.

Intolerância verbal: Expressão de preconceito ou ódio contra pessoas de outras religiões. Pode incluir insultos, ameaças ou discursos de ódio.

No Brasil, a intolerância religiosa é um crime previsto na Lei 7.716/1989, que define como crime de racismo “qualquer discriminação que atinja a cidadania, a dignidade da pessoa humana ou os direitos e liberdades fundamentais em razão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

Existem várias maneiras de combater a intolerância religiosa, como promover a educação e a conscientização sobre a importância do respeito às diferenças religiosas. Outra é apoiar organizações que trabalham para proteger os direitos das pessoas de todas as religiões.

No Brasil o Dia do Vizinho é comemorado em 23 de dezembro: Reza a lenda: “mais vale um vizinho perto do que um irmão longe.”

Reportagem: Raquel Santiago | redacao1@comunidadeemacao.com.br

Fotos: Daniele Ferreira | Arquivo Pessoal