A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anunciou que, a partir de novembro, 701 moradores do bairro Tupi serão reintegrados como usuários do Centro de Saúde Tupi. A informação foi confirmada em documentos enviados pela prefeitura à Promotoria de Defesa da Saúde do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). O problema de atendimento na unidade de saúde vem afetando a comunidade desde 2020.
A decisão foi comunicada durante uma reunião realizada na quinta-feira (10/10) na Igreja São Judas Tadeu. O encontro contou com a presença de Moisés Gonçalves, diretor Regional de Saúde Norte, que apresentou uma pesquisa com parte dos moradores envolvidos no processo de retorno ao Centro de Saúde Tupi. Segundo os dados coletados, 23 das 27 residências entrevistadas preferem retornar ao Tupi, enquanto duas optaram por continuar sendo atendidas no Centro de Saúde Floramar e outras duas foram indiferentes.
Números e Críticas
No relatório apresentado por Gonçalves, foram contabilizados os dados dos usuários do Centro de Saúde Floramar: 69 não se manifestaram, 51 desejam voltar ao Tupi, 11 preferem continuar no Floramar, 12 estavam ausentes e oito mudaram de endereço. Ao todo, 74 moradores declararam querer retornar ao Tupi, enquanto 13 optaram por permanecer no Floramar. Contudo, um dos presentes na reunião questionou a diferença entre os números apresentados e o total de 701 pessoas afetadas pelo processo.
Mesmo com o anúncio da reintegração, alguns moradores criticaram a transferência feita sem consulta aos usuários. As críticas foram direcionadas a Moisés Gonçalves e à gerente do Centro de Saúde Floramar, Nívia Maria de Oliveira, pela falta de diálogo e pela forma como o processo foi conduzido. Nívia estava presente na reunião, mas não respondeu às críticas.
Moradores do Centro Felicidade Excluídos
Apesar do avanço para os usuários do Tupi, os moradores transferidos para o Centro de Saúde Felicidade não foram contemplados no acordo entre a PBH e o MPMG. Esses usuários, que moram próximos ao Centro de Saúde Tupi, continuam sendo atendidos na unidade Felicidade, o que gerou descontentamento. Cristina Sena, uma das moradoras prejudicadas, criticou o diretor regional, afirmando que ele atendeu apenas os interesses dos moradores transferidos para o Floramar, deixando de fora os que foram alocados no Felicidade.
O Comunidade em Ação tentou contato com a Secretaria Municipal de Saúde para esclarecer a decisão de beneficiar apenas os usuários do Floramar, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Para Suzie Rosendo Pereira, uma das usuárias que denunciou o remanejamento ao Ministério Público, a decisão de reintegrar os moradores do Tupi foi uma vitória do controle social. “Depois de muita luta, houve um reconhecimento. Qualquer mudança tem que ser comunicada à população, ouvindo suas opiniões. A mudança trouxe muitos transtornos e prejuízos à saúde, mas com persistência vencemos essa batalha”, afirmou Suzie.
Contexto Regional
A questão do remanejamento de usuários também afetou outras regiões de Belo Horizonte, como os bairros Guarani, Providência, Aarão Reis e Campo Alegre. As transferências realizadas anteriormente sem a consulta das Comissões Locais de Saúde e dos Conselhos de Saúde Distrital e Municipal geraram polêmica, uma vez que essas instâncias, que têm caráter deliberativo, deveriam ser consultadas antes de qualquer decisão, conforme prevê a legislação.
A decisão da Prefeitura de Belo Horizonte pode abrir precedentes para que outros usuários prejudicados por remanejamentos reivindiquem o retorno às suas unidades de saúde originais.
Curiosidade
No final da reunião, uma moradora fez um comentário curioso: “Quis o destino que a reunião acontecesse aqui na Igreja de São Judas Tadeu, ele intercedeu por nós”, disse. São Judas Tadeu é conhecido por ser o padroeiro das causas impossíveis e também dos funcionários públicos, sendo invocado em momentos de angústia e desespero. Neste caso, segundo a moradora, o santo teria ficado do lado dos mais fracos.
Reportagem e Fotos: Marcos Silva
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