Falta de profissionais especializados no SUS prejudica atendimento a autistas em BH, denunciam mães

Audiência pública revela desafios enfrentados por famílias e aponta necessidade urgente de melhorias na rede de saúde

Durante audiência pública promovida pela Comissão de Saúde e Saneamento da Câmara Municipal de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (9/4), mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) denunciaram as severas dificuldades no acesso ao diagnóstico e tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A reunião ocorreu no contexto do “Abril Azul”, mês de conscientização sobre o autismo, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O encontro, solicitado pelo vereador Arruda (Republicanos), reuniu parlamentares, representantes da Secretaria Municipal de Saúde, conselheiros, profissionais da área e, principalmente, famílias impactadas pela falta de estrutura adequada no atendimento aos autistas.

Relatos emocionantes evidenciam a precariedade do atendimento

Os depoimentos das mães presentes foram unânimes ao apontar a carência de profissionais especializados, como neuropediatras, psiquiatras e terapeutas ocupacionais.

Cíntia Lemos, mãe do pequeno Gabriel, compartilhou sua angústia: “Desde 2019 espero por uma consulta com neurologista. Psiquiatra, desde 2022. Nunca consegui levar meu filho a um neuropediatra pelo SUS”. Ela também relembrou o despreparo de uma pediatra que desconsiderou os sintomas apresentados pelo filho.

Já Maria Gonçalves Souza, mãe de outro menino autista, relatou que, mesmo após o diagnóstico, continua enfrentando obstáculos. “Não tem psicóloga, não tem atendimento, e na escola meu filho não pode ficar todos os dias porque não há suporte. Falta inclusão de verdade”, desabafou.

Ausência de profissionais compromete direitos garantidos por lei

A vereadora Dra. Michelly Siqueira (PRD) destacou que o problema não está apenas na legislação, mas na execução. Ela citou o Artigo 18 da Lei Brasileira de Inclusão, que garante atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis. “A falta de profissionais especializados é o principal gargalo”, afirmou a parlamentar.

Michelly revelou ter enviado um pedido de informação à Prefeitura de Belo Horizonte, que confirmou a escassez de especialistas na rede pública. Ela defende a criação de um centro especializado em autismo e deficiências, com equipes permanentes, treinadas e contratadas de forma efetiva.

Conselhos e promessas ainda sem retorno

Kelly Cristina Abrantes, do Conselho Municipal de Saúde, reforçou que as Conferências Municipais de Saúde já apontaram a necessidade de ampliar os Centros de Referência em Reabilitação (Creab) e garantir estabilidade nas equipes. “O rodízio constante de profissionais prejudica a continuidade do tratamento”, alertou.

Imagem ilustrativa gerada por IA
Imagem ilustrativa
de paciente de TEA gerada por IA

O vereador Dr. Bruno Pedralva (PT) também criticou o descumprimento de uma promessa da atual gestão: a criação de um Núcleo de Atendimento aos Transtornos de Neurodesenvolvimento. “Essa unidade poderia oferecer um atendimento multiprofissional completo, mas até agora não saiu do papel”, lamentou.

SUS atende mais, mas ainda é insuficiente

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Segundo Rafaela Sardi de Almeida, representante da Secretaria Municipal de Saúde, o atendimento a pessoas com TEA cresceu nos últimos meses. “De janeiro a março de 2025, 2.213 pessoas autistas foram atendidas. Em todo o ano passado foram 4.577. A demanda cresce e o sistema tenta acompanhar, mas ainda é insuficiente”, reconheceu.

A gestora citou ainda os serviços disponíveis na rede: 153 centros de saúde, 597 equipes de Saúde da Família, cinco Creabs, nove equipes complementares de saúde mental, 83 polos do Nasf e três Centros de Referência em Saúde Mental (Cersam). No entanto, mesmo com essa estrutura, o acesso efetivo ainda é um desafio.

Novas iniciativas buscam agilizar o diagnóstico

A servidora Sheila Novaes apresentou o projeto itinerante da prefeitura, que realiza avaliações multiprofissionais para acelerar diagnósticos. “Atualmente, não temos crianças com mais de um ano aguardando pelo diagnóstico”, afirmou.

Ela também destacou o lançamento de uma cartilha informativa sobre os direitos das pessoas com TEA, disponível nos centros de saúde de BH. O material orienta sobre os serviços públicos disponíveis e o fluxo de atendimento na rede SUS da capital.

Participação ativa da comunidade é fundamental

A audiência foi encerrada com o apelo do vereador Arruda às mães para que continuem denunciando e participando das comissões locais nos centros de saúde. “Suas vozes serão acompanhadas por esta comissão. A luta de vocês não será ignorada”, garantiu.

Da Redação | redacao1@comunidadeemacao.com.br