Três ex.moradores da Zona Norte da Capital, Keli, Rafalel e Luciana contam suas experiências diante da pandemia da COVID-19. Eles estão vivendo na Itália, Alemanha e Estados Unidos e cada qual passou por diferentes os protocolos de prevenção de isolamento social. Assim que as notícias sobre a infecção do coronavírus começaram ganhar destaque nos noticiários em janeiro, a reação foi de indiferença por parte da população e dos governantes destes países. Era a certeza que um vírus tão distante não poderia torna-se uma pandemia e ele mostrou o contrario transformando a vida das pessoas.
A Covid-19, que antes foi considerado um “resfriado ou gripezinha”, mexeu com a saúde – física e/ou emocional, de alguma forma e por também com a economia mundial.
Diariamente a mídia tem relatos de pessoas que passam por apuros. Ora por não terem um sistema de saúde com atendimento digno, ora outras enfrentam cenários de incertezas na economia e gestão dos negócios. Este sentimento é comum do ser humano aqui no Brasil e no mundo.
Brasileiros que moram no exterior, vivenciaram o agravamento da situação, anteriormente à nós. Nos outros países atingidos também houve o momento de negação. Inicialmente no Brasil a contaminação com coronavírus era doença de rico que viaja para o exterior.
O Jornal COMUNIDADE EM AÇÃO entrevistou três ex-moradores da Região Norte de Belo Horizonte que atualmente moram no exterior. Luciana Pinho no Estados Unidos, Kelli Scarabelle na Itália e Rafael Chagas na Alemanha. Eles contaram como estão passando a pandemia da Covid-19 nos países que moram atualmente e contaram a forte preocupação com o cenário.
As entrevistas foram feitas em abril e o cenário local podem ter mudado.
ITÁLIA
Keli Sacarabelli, 39 anos, Mora em Milão, na Itália desde Agosto de 2005. Maquiadora e trabalha também na Empresa de Limpeza da Ferrovia Nord.
Keli relata que no a situação da pandemia foi muito assustador quando começou a crise do coronavírus na Itália. Casada e com marido trabalhando na Suíça,ele retorna somente aos fins de semana, os pais dela são quem cuidam dos filhos do casal. Os pais de Keli fazem parte do grupo de risco por estarem na faixa dos 60 anos. Ela conta que ao chegar em casa após o trabalho ou eventuais saídas ela obedecia ao protocolo de prevenção contra a contaminação do Covid.
A Itália e a Espanha foram os países da Europa nos quais o coronavírus mais impactou a população em razão da demora as tomar medidas de prevenção. “Logo no começo foi assustador pra todo mundo e minha mãe ficou apavorada, deu aquele choque, aquele baque para minha família” conta a maquiadora que acompanhou pela mídia e preocupada com a mãe em razão da idade e o pai continuou trabalhando.
As medidas de isolamento social em Milão foram rigorosas depois que os casos de contaminação pelo Covid-19 alastraram. Keli confirma que no inicio o governo local preocupou, posteriormente foram estabelecidas normas de distanciamento nas filas em açougues, supermercados e farmácias entre as pessoas.
“Logo no inicio as medidas foram bem brandas, no caso, então, ou seja, não poderíamos sair de casa, sem mascaras ou luvas, isto tinha marcação ser no mínimo um metro entre as pessoas nas filas nos supermercados, açougues tinha marcação e pelo chão de um metro, né?!, você não poderia passar esta marcação.”
Para sair de casa também teve controle pelo Ministério da Saúde italiano. “Se você saísse (de casa) com auto certificação, você tinha que ter um papel que você imprimia no Ministério da Saúde daqui da Itália e você tinha que preencher este papel falando desde que hora você estava fora de casa, falando da onde você morava, pra onde você estava indo falando qual o motivo desde saúde, primeira necessidade que seria fazer compras ou farmácia no caso, por motivo de trabalho e motivo de visita (consulta) médica” diz Keli, explicando que se caso fosse pega circulando pelas ruas sem esta auto-certificação a pessoa é multada entre 240 e dois mil euros, podendo ser presa em até três meses de reclusão. Keli conta que as multas vem sendo aplicadas com mais frequência. Teve o caso de pessoa próxima à entrevistada que foi multada por estar conversando com outra pessoa enquanto guardava as compras. Este cidadão foi multado em dois mil euros. Outro controle estipulado pela prefeitura foi o rodízio em alguns bairros, para sair de casa somente de acordo com a letra do seu sobrenome e horário. Se correr o risco de descumprir estas medidas custava multa de 600 euros.
As fakes news também circularam na Itália assim como as informações desencontradas. Quanto às informações da pandemia aqui no Brasil, Keli conta que os brasileiros com os quais ela convive na comunidade evangélica em Milão ficaram preocupados. “O motivo é o sistema de saúde aqui não comportar o atendimento dos italianos “país de primeiro mundo” está melhor preparado.” Lá eles têm a informação que o vírus não age com a mesma eficiência nos climas tropical. Aqui no Brasil as autoridades brasileiras ainda não comprovaram esta informação.
Comparando as medidas de prevenção tomadas no Brasil em relação às italianas, Keli considera que foram melhores porque as medidas de proteção foram antecipadas. No inicio na Itália a Covid foi considerado uma “gripizinha” assim como aqui no Brasil. “Aqui demorou muito a ser tomar (decisão), pois estavam considerando ser um gripizinha qualquer, mas no Brasil também chegou este conceito de uma gripe qualquer, mas aqui demorou muito para perceber que não era bem assim” diz. Keli lembra que a Itália foi o país onde mais repercutiu depois da China local que surgiu o coronavírus. A quarentena foi à medida de urgência na tentativa reduzir o caos no sistema de saúde italiano. Na segunda onda a Itália começa a liberar o funcionamento do comércio começando pelos depósitos de material de construção e papelaria.
“Aqui depois da quarentena que foi a fase um, iam fazer com que passe para a fase dois, fazer com que tudo volte ao normal, devagar, que tudo volte ao seu tempo, mas com que as pessoas possam conviver com o coronavírus” explica Keli ressaltando que as pessoas estão expostas a possibilidade da contaminação, é necessário manter os protocolos de proteção.
Quanto ao futuro Keli tem visto muitas na mídia mensagens de otimismo e que a Itália vai superar esta situação assim como foi no passado. Keli conta que os italianos estão recebendo ajudas de programas para as pessoas que perderam o emprego, recursos para pagar aluguel, comprar celular. Ela diz que são semelhantes aos programas assistências como dos brasileiros variando de 600 a 1400 Euros conforme o núcleo familiar “aqui as coisa funciona mesmo” diz Keli.
A economia da cidade esta funcionando, supermercados abertos, sistema de delivery apesar da economia ficou afetada, mas a esperança é palavra de ordem, “vamos sair desta mais rápido do que a gente pensa” afirma Keli.
A crise na Itália
As informações da Itália que chegavam ao Brasil provocou uma série de telefonemas para ela na Itália. Ela mora na região da Lombardia em um bairro e os pais em outro e foram poucos casos próximos. Mais foi assustador ir ao supermercado diante do anúncio da possibilidade da falta de alimentos.
Keli estava maquiando uma modelo quando recebeu o telefonema do marido pedindo para ela ir até ao supermercado, por estar com o carro, diante dos avisos na mídia para estocar alimentos. No supermercado encontrou uma fila enorme nunca vista antes. Nas gôndolas de água, leite, açúcar, pão e ovos esgotaram. “Isto me assustou, meu Deus!” diante da possibilidade do desabastecimento dos supermercados lembrando que nem todas as pessoas tem poupança para recorrer no caso das compras extras.
Ela comprou alguns produtos além do costume, mas na semana seguinte o abastecimento foi regularizado. As filas continuam nos supermercados onde se espera até duas horas para entrar, mas no primeiro dia Keli ficou muito assustada com a situação. Aos poucos estão normalizando mas as crianças estão sem escola desde fevereiro. O que aumentaram foram as rotinas de casa, ela continua trabalhando normalmente e tendo que fazer comida mais vezes ao dia para “alimentar quatro homens” são três filhos e o marido.
ALEMANHA
Rafael Chagas, 29 anos. Mora em Munique na Alemanha há 08 anos. Vendedor
Rafael Chagas mora há oito anos em Munique na Alemanha e trabalha como vendedor em loja. Ele conta que está em casa desde 17 de março ultimo dia de trabalho. Em Munique o isolamento social foi a partir do dia 19 do mesmo mês quando todas as lojas foram obrigadas a fechar.
“Sair de casa, só pra ir ao médico e ao supermercado. Como eu sou muito ativo, foi bem difícil ficar em casa. Mas eu aproveitei pra renovar o apartamento, “fazer uma geral” em tudo” conta Rafael.
Na Alemanha, segundo Rafael, as normas para isolamento social e prevenção ao coronavírus foram: comércio fechado – exceto mercados e farmácias, proibição de sair de casa sendo permitido para fazer esportes ao ar livre sozinho, ir trabalhar em escritórios por exemplo. Bares e restaurantes somente é permitido funcionar com sistema de delivery. Os hotéis estão fechados.
Existe a obrigação da manter-se 1,5 m de distância entre as pessoas e para os que desrespeitarem são aplicadas multas de 150 até 25.000 Euros.
Rafael não tem conhecimento de pessoas que tiveram a Covid-19, “Apesar que como eu tenho muito contato com pessoas no meu trabalho, eu provavelmente posso ter tido o coronavírus, mesmo sem saber. Muitas pessoas estiveram doente no meu trabalho, com os mesmo sintomas. Mas isso foi pouco antes da crise estourar na Europa.”
Sobre o caso de pandemia no Brasil. Rafael pouco ficou sabendo por meio da imprensa da Alemanha, segundo ele “a mídia alemã pouco repercute as coisas que acontecem no Brasil. Então eu procurei me informar sobre o Brasil pela nossa mídia” diz Rafael, mas com desconfiança daquilo que conseguiu apurar. Para Rafael considera que não tem como definir se as medidas de prevenção tomadas pelo governo da Alemanha são melhores ou piores comparadas com as brasileiras.
“É muito difícil fazer esse tipo de comparação. A Alemanha tem um sistema muito estruturado. A gente também não pode se esquecer que, apesar de ser um país quase que do tamanho de Minas Gerais, tem uma das economias mais fortes do mundo. O governo conseguiu manter as pessoas em casa porque pôde ajudar financeiramente as empresas. Uma das estratégias foi pagar uma espécie de seguro desemprego aos trabalhadores formais, para que, tanto esses quanto suas empresas, não tivessem problemas financeiros. Um gasto a menos para as empresas,” conforme explicação do Rafael.
Ele acrescenta que na Alemanha não existe trabalho informal e ele avalia isso como positivo. “O que gera mais impostos pagos e consequentemente mais controle por parte do governo. No Brasil isso é um pouco mais difícil. O país vem de um caos político e econômico deixado pelos últimos governos. Eu não gostaria de estar no lugar do nosso presidente. Eu, de fato, não saberia o que seria o mais certo a fazer. Eu acho que dentro do que ele pode fazer, ele está fazendo” completa o vendedor.
Com relação da família dele aqui no Brasil, Rafael afirma que estive preocupado com a situação deles, mas conhece a capacidade e a garra deles. “Eu sempre tive certeza de eles superaram a crise. A gente mantém o nosso contato. É o que nos resta” conclui.
ESTADOS UNIDOS
Luciana Eiderique – Mora há 26 anos em Shelton, Connecticut. USA e Trabalha com house cleaning (diaristas).
Luciana conta como está vivenciando com a crise da coronavírus é terrível a situação pela qual ela nunca esperava passar porque “é uma coisa que a gente não estava esperando e simplesmente muda a rotina da gente”. No inicio em Shelton não houve isolamento e ainda deu para trabalhar, mas depois as clientes pediram para suspender os serviços e as pessoas ficaram em isolamento. “Todos estão em isolamento dentro de casa, está parecendo que somos prisioneiros, né? Aliás nós somos um prisioneiro, agora” Luciana relata que somente está funcionando as farmácias, hospitais e supermercados, para entrar nestes locais as pessoas têm que estar usando máscara e luvas.
Há várias semanas dentro de casa, junto com o filho (foto) sem pode sair e trabalhar esta situação tem gerado grande preocupação em razão dos compromissos com pagamento das contas e aluguel.
Os brasileiros que vivem nos Estados Unidos têm sido vitimas do coronavírus. Segundo Luciana, dois rapazes brasileiros que moravam na mesma cidade onde ela vive faleceram em razão da Covid-19, também existem outros tantos que recuperam e estão bem.
Para Luciana a repercussão do coronavírus nos Estados Unidos foi muito grande, pois ninguém esperava que um vírus parasse o país. “Quando se fala dos Estados Unidos, espera uma guerra nuclear, bombas, atentados terroristas uma coisa assim, mas é para gente vê, né?!, que gente não pode nada e gente não sabe nada, quem sabe tudo é Deus, como eu acredito muito em Deus, eu creio muito em Deus, eu creio que o homem cada vez mais não sabe nada”, afirma Luciana manifestando sua fé .
Ela conta que Nova Iorque parou diante da pandemia do coronavírus, as ruas estão parecendo um deserto com a população isolada. “Nova Iorque é o centro do foco, é muito triste”, definiu. Quanto à comunidade de brasileiros em Shelton, com todas as recomendações das autoridades para manter em isolamento, teve aqueles que fizeram festa e tiveram problema com a polícia depois de denunciados por americanos.
Luciana vê semelhança nas medidas de prevenção adotadas nos Estados Unidos em relação ao Brasil. Tanto lá como aqui, há dúvidas quanto ao isolamento diante da necessidade de trabalhar e o impacto nas finanças já que as pessoas precisam do dinheiro para se manter. Ela concorda que é fácil uma família fazer isolamento social quando tem a geladeira cheia, mas é complicado para aquela pessoa que depende do trabalho para sustentar à família. “Aqui imigrantes não consegue trabalho em empresas somente quem é legal no país”, resume.
Algumas das clientes da Luciana permitem que ela faça a limpeza de suas casas, mas ela se cerca de todas as recomendações na prevenção ao sair de casa usando máscaras, luvas e higiene pessoal depois de voltar do trabalho.
Existe a preocupação com a família dela aqui no Brasil. Luciana tem recomendado à mãe para ficar em casa e quando sair usar a máscara.
Quanto ao futuro ela espera que aprendamos com esta situação e que “sirva de lição para todos nós, né?! Que nós não somos ninguém, com se diz do pó viemos, ao pó voltaremos” referindo que o coronavírus é democrático contaminado qualquer ser humano independente da raça, diz Luciana lembrando que nos Estados Unidos famosos e ricos são vitimas da Covid-19. Luciana diz que sente saudades de duas coisas do Brasil, os caldos com o torresmo do Bar da Cida e do bife de fígado com jiló do Mercados Central.